Câmara de Vereadores de Gramado
Estado do Rio Grande do Sul

JUSTIFICATIVA DO PROJETO DE LEI:

Senhor Presidente,                                                                                                              

Senhores Vereadores (as),

Os Vereadores que a presente subscrevem, observadas as normas regimentais, apresentam o seguinte Projeto de Lei objetivando declarar o Kikito como patrimônio cultural do município de Gramado, em razão deste ser um dos símbolos da cultura nacional e ser reconhecidamente o prêmio máximo do cinema nacional, entregue anualmente a artistas e diretores em diversas categorias do Festival de Cinema de Gramado.

Criado em 1966 pela artesã gramadense Elisabeth Rosenfeld na casa de arte mais importante da região, o kikito foi inicialmente concebido em chumbo e tinha como principal função presentear amigos da artesã.

Entretanto, seis anos depois, em 1972, a estatueta começou a ganhar notoriedade, sendo esta o prêmio da primeira Feira Nacional de Artesanato de Gramado, consagrando assim os melhores artesãos do Brasil e tornando-se um símbolo da cidade Gaúcha.

            Em 1973, ocorrem dois fatos emblemáticos na história do Kikito: Primeiro o concurso organizado por Rosenfeld, com intuito de eleger a melhor releitura da escultura. O segundo ocorrido, trata-se da primeira edição do Festival de Cinema de Gramado, nascido da mostra cinematográfica que ocorria na festa das hortênsias, tradicional festejo da cidade.

Do concurso, sai vitorioso o artesão gramadense Orival da Silva Marques, mais conhecido como “Xixo”, que acaba por ficar responsável por esculpir as estatuetas que seriam entregues aos vencedores da primeira edição do Festival de Cinema de Gramado.

Inicialmente, o Festival já havia selecionado a hortênsia em ouro para ser o prêmio máximo do evento, mas o Kikito passou a ganhar amplo espaço a partir da visita do então secretário de Turismo de Gramado, Romeu Dutra, ao  Presidente do Instituto Nacional de Cinema/INC, Ricardo Caravo Albin, que gostou muito da estatueta sorridente. Este encontro foi marcado pelo grande ator gaúcho José Lewgoy.

Ao longo de suas cinquenta edições, foram entregues milhares de exemplares da estatueta, que ao longo de sua biografia, foi esculpida em chumbo, madeira, cristal, até chegar nos moldes atuais, com base em madeira, fundida em bronze, medindo trinta e três centímetros e pesando três quilos e meio.  O que não se perdeu neste período foi o seu formato: O sol sorrindo, ideia da artesã Elizabeth Rosenfeld como uma forma de trazer alegria para amigos, funcionários e todos os cidadãos gramadenses.

Não há relatos sobre a origem do nome “kikito” e nem o motivo para sua criadora o ter batizado com esta alcunha, que ao longo dos anos ganhou como codinome: “o Deus do bom humor”, sem qualquer referência a alguma mitologia politeísta, a não ser o afeto e enaltecimento dos indivíduos que nutrem estreita relação com a estatueta, sejam eles moradores do município de Gramado – onde é possível verificar referências a estatueta, ao nome e codinome desta, por inúmeros locais da cidade – sejam eles ganhadores da estatueta como premio no Festival de Cinema de Gramado – que trazem em seus discursos emotivos, toda uma relação de criador versus criatura, muitas vezes em situação de constante troca.

Basta uma simples pesquisa em sites de busca para verificar os discursos emotivos proferidos pelos agraciados com a estatueta no Festival de Cinema de Gramado. Ou ainda, uma rápida caminhada pelo município de Gramado para ver releituras dos mais diferentes tamanhos, formatos e até... sabores. Afinal, há estatuetas comestíveis, feitas em chocolate, espalhadas por diversas lojas da cidade.

Em meio a este cenário de falas emotivas e releituras, o kikito é consagrado como um símbolo não só do cinema nacional, mas acima disto, imagem representativa da cidade de Gramado e do munícipe gramadense.

Neste sentido, julga-se pertinente o registro da estatueta do Kikito como um patrimônio da cidade de Gramado, tendo em vista que o patrimônio não apenas desempenha função identitária, expressando simbolicamente identidades individuais e sociais, mas, na verdade, organiza a percepção que os indivíduos têm de si mesmos, individual e coletivamente.

Deste modo, os bens culturais classificáveis como patrimônio encontram um certo tipo de repercussão sentimental junto à sociedade ou grupo que o constituiu, articulando e expressando assim a identidade e a memória desta coletividade.

Ao falar da importância do Kikito como patrimônio, vai-se muito além do simples objeto. Fala-se do indivíduo que foi agraciado com o prêmio no Festival de Cinema, fala-se do lugar onde ele foi criado e de quem criou a estatueta, fala-se das tantas releituras, formas e sabores que o Kikito pode ter, fala-se, principalmente, da cidade de Gramado.

Ampliando o conceito de patrimônio e categorizando o Kikito como tal, poderíamos ver, através de seu registro como patrimônio cultural de Gramado, o reconhecimento e a proteção de práticas, valorizando, assim, todo o poder que este objeto tem sobre os espaços e os indivíduos com os quais interage.

O Kikito é, assim, algo que não existe isoladamente ou de forma autônoma, e muito menos só na premiação do Festival ou nas tantas estátuas em praças, hotéis, lojas, museus e outros estabelecimentos públicos e privados do município de Gramado, mas constitui um emaranhado de fios que tecem uma rede de relações sociais complexas.

Ao ser pensado enquanto patrimônio, o Kikito demonstra sua capacidade de ser tratado como parte essencial dos sujeitos e dos grupos sociais que com ele interagem. Ele representa, assim, a coletividade de sistemas simbólicos e categorias culturais que constituem a totalidade da vida de premiados e moradores de Gramado.

Câmara Municipal de Gramado, 04 de Agosto de 2022.

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Professor Daniel              Renan Sartori

Vereador PT                 Vereador MDB